Na manhã do segundo dia da III Conferência Nacional da
Mulher Advogada, nesta sexta-feira (6), foram debatidos temas como violência e
crimes contra a mulher, mercado de trabalho e igualdade de gênero e
desenvolvimento econômico. O encontro acontece no Centro de Eventos da Ceará, em
Fortaleza. Paralelamente foram realizadas mesas redondas sobre violência de
gênero e jovem mulher advogada, workshop sobre mulheres no sistema prisional e
apresentação de projetos da Comissões de Mulheres Advogadas das seccionais.
Painel 7 – No debate sobre o enfrentamento da violência
contra a mulher, a presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-CE,
Christiane Leitão, apresentou dados e informações acerca dos índices de mortes
violentas de mulheres no Ceará. Para ela, os números mostram que a violência
contra as mulheres é mais um tipo de segregação social.
“Os dados mostram que a violência contra elas começa na mais
tenra idade, com meninas sendo abusadas, cooptadas pelo tráfico e sendo mortas
por serem uma peça descartável, em um sistema que mata as mulheres. Isso é
problema gerado pela não proteção estatal. A morte começa nesse abandono dos
mais vulneráveis pelo estado. Nós, como rede de proteção, temos um papel
fundamental, que é o de difundir informações, explicar o que é e o que gera a
violência. Ensinar e educar é uma forma de proteção, porque muitas não se
entendem como vítimas desse sistema”, afirmou Christiane Leitão.
Painel 8 – No painel a respeito das mulheres no mercado de
trabalho, a presidente da Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas
(ABRAT), Alessandra Camarano, criticou o preconceito pela simples circunstância
de ser mulher. “Nós não temos licença maternidade e nem condições de estarmos
usufruindo desse momento tão necessário ao entrelaçamento e conexão com nossos
filhos. Mas isso não é uma característica só da advocacia. Muitas mulheres são
demitidas quando retornam ao trabalho após a maternidade”, pontuou.
Camarano destacou, ainda, a importância de se dispor de um
sistema que “não permita a exclusão pelo simples fato de sermos mulheres. Esse
é um tema caro para a advocacia e importante para a sociedade. Não podemos
naturalizar esse tipo de situação. Precisamos os movimentar e contar com homens
com verdadeiramente se preocupam e têm comprometimento com a justiça social”.
Primeira presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada,
Fernanda Marinela, falou sobre os desafios da mulher no mercado de trabalho globalizado
que criou empresas mais complexas e diversificadas. “Isso para as mulheres tem
se revelado um grande desafio, o que chamamos de teto de vidro, um obstáculo
que elas encontram para ascender aos cargos nas empresas. Ele permite que a
mulher veja longe e não alcance, o que gera frustração ou mudança de
profissão”.
Marinela também destacou a importância da sororidade.
“Precisamos construir relações entre as mulheres para que possamos criar
vínculos de companheirismo. A mulher que cresce e ocupa espaços precisa ter a
consciência do papel dela de trazer outras. A ascensão traz para essa mulher a
responsabilidade de puxar outras”, afirmou.
Painel 9 – Ainda no debate sobre o enfretamento da violência
contra a mulher, um dos painéis tratou sobre uso da tecnologia nesses casos com
exemplos de aplicativos e iniciativas tecnológicas que podem favorecer ações em
defesa das mulheres. A vice-presidente da OAB-DF, Cristiane Damasceno, falou
sobre crimes cibernéticos praticados contra mulheres. Ela explicou sobre as
leis que estabelecem punição para ações que violam ou que expõem a intimidade
das mulheres no ambiente virtual.
Para Cristiane Damasceno, apesar do avanço na legislação, ainda
é preciso garantir uma punição aos responsáveis por esses crimes. “Os crimes
são registrados, mas acabam não sendo apurados. Não há um preparo adequado nas
delegacias e até mesmo nas varas especializadas de violência doméstica para
atender à demanda dos crimes cibernéticos. Não quero dizer que não houve
avanços, mas a nossa conclusão é que precisamos de mais em defesa das
mulheres”, defendeu.
Painel 10 – Ana Carolina Querino, gerente de programas da
ONU Mulheres, falou sobre a igualdade de gênero como acelerador do
desenvolvimento sustentável e apresentou dados relativos à agenda da ONU para
as mulheres com base nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Querino citou a questão da participação de apenas 50% das
mulheres no mercado formal de trabalho para exemplificar a questão da falta de
igualdade. “Percebemos que não há igualdade e que estamos perdendo talentos por
deixar quase metade de fora. Para avançar é preciso começar a enxergar essas
diferenças e colocar luz em dados, estudos e compromisso intersetorial com toda
a sociedade sobre como podemos trabalhar juntos, analisando e revendo as
próprias ações para poder dar centralidade para quem está mais atrás”, disse.
Source: OAB